A compressão pneumática intermitente, vulgarmente conhecida como pressoterapia, consiste na aplicação cíclica de pressão através de câmaras de ar, usualmente sobre membros inferiores (Waller et al., 2006). Utilizada na área médica, esta modalidade permite prevenir tromboses venosas profundas e abrandamentos ou paragens no normal fluxo sanguíneo, assim como tratar pacientes que apresentem linfedema (inchaços causados pelo acumular excessivo de linfa) e úlceras nos membros inferiores (Nelson et al., 2008; Pavon et al., 2016; Phillips & Gordon, 2019; Wang et al., 2018; Wang et al., 2021).
Já na área desportiva, esta modalidade vem-se revelando promissora na recuperação de atletas amadores e profissionais (Waller et al., 2006; Winke & Williamson, 2018), através do seu mecanismo de aumento da circulação sanguínea – associado a uma melhoria na qualidade da recuperação (Borne et al., 2017). Apesar de ser uma temática ainda em afirmação no mercado desportivo (dada a sua origem recente), a comunidade atlética parece tê-la recebido bem, usando-a com frequência (Field et al., 2021).
Por norma, estes dispositivos podem ser utilizados pelo menos em 3 modos distintos:
• sequencial – em que as câmaras de ar enchem de baixo para cima, mantendo a pressão nas inferiores;
• peristáltico –as câmaras de ar enchem e esvaziam de baixo para cima;
• continuo – pressão cíclica em todas as câmaras de ar simultaneamente.
A isto acrescenta-se também a possibilidade de escolha da pressão.
Neste campo, a ciência ainda não é tão clara. Ainda assim, e através da análise da evidência existente até à data, parece existir um ponto ótimo para otimizar a recuperação desportiva.
• Pressões altas (80-90 mmHg) e durações de tratamento de 20 a 30 minutos parecem representar o tratamento ideal para recuperar com estes dispositivos.
• Durações superiores a 30 minutos e pressões mais elevadas parecem não trazer benefícios adicionais.
• Pressões inferiores prometem também oferecer benefícios em comparação a recuperação passiva (apenas repouso), mas não tão expressivos.
Já na área médica, recomenda-se o uso de pressões inferiores (~30 a 60 mmHg) (Uzkeser et al., 2015).
Trata-se de uma modalidade que permite:
• aumentar as sensações associadas ao bem-estar,
• reduzir perceções de fadiga, dor e desconforto muscular (Heapy et al., 2018; Hoffman et al., 2016),
• melhorar a flexibilidade (Winke & Williamson, 2018)
• melhorar a capacidade de produzir força (Waller et al., 2006).
Filipe Maia
Doutorando em Fisiologia do Exercício
Referências bibliográficas:
Borne, R., Hausswirth, C., & Bieuzen, F. (2017). Relationship Between Blood Flow and Performance Recovery: A Randomized, Placebo-Controlled Study. International Journal of Sports Physiology and Performance, 12(2), 152-160. https://doi.org/10.1123/ijspp.2015-0779
Field, A., Harper, L. D., Chrismas, B. C. R., Fowler, P. M., McCall, A., Paul, D. J., Chamari, K., & Taylor, L. (2021). The Use of Recovery Strategies in Professional Soccer: A Worldwide Survey. International Journal of Sports Physiology and Performance, 1-12. https://doi.org/10.1123/ijspp.2020-0799
Heapy, A. M., Hoffman, M. D., Verhagen, H. H., Thompson, S. W., Dhamija, P., Sandford, F. J., & Cooper, M. C. (2018). A randomized controlled trial of manual therapy and pneumatic compression for recovery from prolonged running - an extended study. Res Sports Med, 26(3), 354-364. https://doi.org/10.1080/15438627.2018.1447469
Hoffman, M. D., Badowski, N., Chin, J., & Stuempfle, K. J. (2016). A Randomized Controlled Trial of Massage and Pneumatic Compression for Ultramarathon Recovery. J Orthop Sports Phys Ther, 46(5), 320-326. https://doi.org/10.2519/jospt.2016.6455
Nelson, E. A., Mani, R., & Vowden, K. (2008). Intermittent pneumatic compression for treating venous leg ulcers. Cochrane Database Syst Rev(2), Cd001899. https://doi.org/10.1002/14651858.CD001899.pub2
Pavon, J. M., Adam, S. S., Razouki, Z. A., McDuffie, J. R., Lachiewicz, P. F., Kosinski, A. S., Beadles, C. A., Ortel, T. L., Nagi, A., & Williams, J. W., Jr. (2016). Effectiveness of Intermittent Pneumatic Compression Devices for Venous Thromboembolism Prophylaxis in High-Risk Surgical Patients: A Systematic Review. J Arthroplasty, 31(2), 524-532. https://doi.org/10.1016/j.arth.2015.09.043
Phillips, J. J., & Gordon, S. J. (2019). Intermittent Pneumatic Compression Dosage for Adults and Children with Lymphedema: A Systematic Review. Lymphat Res Biol, 17(1), 2-18. https://doi.org/10.1089/lrb.2018.0034
Uzkeser, H., Karatay, S., Erdemci, B., Koc, M., & Senel, K. (2015). Efficacy of manual lymphatic drainage and intermittent pneumatic compression pump use in the treatment of lymphedema after mastectomy: a randomized controlled trial. Breast Cancer, 22(3), 300-307. https://doi.org/10.1007/s12282-013-0481-3
Waller, T., Caine, M., & Morris, R. (2006). Intermittent Pneumatic Compression Technology for Sports Recovery. In (pp. 391-396). Springer New York. https://doi.org/10.1007/978-0-387-45951-6_70
Wang, D., Bao, F., Li, Q., Teng, Y., & Li, J. (2018). Semiautomatic intermittent pneumatic compression device applied to deep vein thrombosis in major orthopedic surgery. Biomed Eng Online, 17(1), 78. https://doi.org/10.1186/s12938-018-0513-5
Wang, X., Zhang, Y., Fang, F., Jia, L., You, C., Xu, P., & Faramand, A. (2021). Comparative efficacy and safety of pharmacological prophylaxis and intermittent pneumatic compression for prevention of venous thromboembolism in adult undergoing neurosurgery: a systematic review and network meta-analysis. Neurosurgical Review, 44(2), 721-729. https://doi.org/10.1007/s10143-020-01297-0
Winke, M., & Williamson, S. (2018). Comparison of a Pneumatic Compression Device to a Compression Garment During Recovery from DOMS. Int J Exerc Sci, 11(3), 375-383. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5955306/pdf/ijes-11-03-375.pdf